Reforma?

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    Reforma?

    Este texto eu gostaria que tivesse sido elaborado por um geógrafo ou um economista, mas como não o fizeram, arrisco fazer essa tarefa. O assunto é tenso, desagradável até, mas eu sempre acreditei que os textos são quem nos escolhe para escrevê-los. Este, especialmente, precisa ser escrito; e as pessoas estão necessitando dele… Eu, pelo menos, estou muito.

    Tudo começou há um ano quando compartilhei uma mensagem criticando a “nova” proposta de “Reforma da Previdência” com alguns amigos pelas mídias sociais. Um amigo, em especial, amigo-irmão, pessoa muito querida e cuja inteligência eu respeito muito, me saiu com frases que me pareceram tão disparatadas naquele contexto, que não achei justo puxar uma peixeira e partir pra um bate-boca já sem possibilidades de ser proveitoso para nenhum dos lados.

    Segundo suas palavras, “se temos educação, formações e especializações, saúde e equilíbrio social e emocional, não será necessário aposentar antes dos 80 anos” (acredito que ele tenha pensado: se tivéssemos). “A origem da aposentadoria vem de aposento para encostar bons funcionários que não produz mais como antes, e os “civilizados” transformaram em seguro de merecimento de esforço”. Concluiu com a máxima imprevisível e improvável: “Não sou contra a reforma – Sou contra a previdência”!!!

    Este texto não é uma resposta a meu amigo querido, mas uma contribuição para quem não teve acesso a outros pontos de vista da realidade em que vivemos. Também, este texto não tem a ilusão de alcançar todo o problema, é apenas um olhar agudo e focado para um ponto específico: todos os (ou a imensa maioria dos) brasileiros que têm um trabalho formal estão contra essa proposta obviamente por saber-se prejudicado diretamente, uma vez que contribuiu com 11% de seu salário ao longo dos anos com a promessa de que este valor seria uma poupança compulsória e que, estes valores seriam restituídos em forma de renda mensal para ampará-lo na velhice; mas muitas dessas pessoas não pararam para refletir sobre o efeito disto para a sociedade como um todo, para os efeitos destruidores na organização da civilização em que estamos inseridos. O ponto menos abordado pelos analistas é quanto ao efeito regulador do emprego que a aposentadoria exerce. Vou citar alguns dados estatísticos:

    Nos dados de 2011, quando o Brasil vivia uma situação próxima de pleno emprego, ou seja, desemprego quase zero, havia 10.734 milhões de trabalhadores na faixa de 20 a 24 anos, e ainda 12.270 milhões, na faixa de 25 a 29 anos (totalizando 23 milhões, de 20 a 29 anos). Na outra ponta, tínhamos 13,354 milhões com idade entre 50 a 59 anos. Uma conta simples, nos conduz a supor que, em aproximadamente 10 anos, estes 13 milhões de trabalhadores vão se aposentar. Ao aposentarem, abrem obrigatoriamente uma vaga de emprego cada, concordam? A empresa que empregava este trabalhador precisará contratar outro para ocupar seu posto. Percebem, a lógica? Se o trabalhador não se aposenta, o velho não abre uma vaga para o jovem.

    O patrão vai poder escolher entre manter o emprego do idoso (acima de 60 anos) ou demiti-lo e contratar um jovem. Nem o idoso, nem o jovem terão escolha. E a sociedade vai necessariamente ganhar um desempregado. Com a “Reforma trabalhista”, a empresa não é obrigada a manter o mesmo salário, logo, vai poder demitir o idoso e contratar o jovem pagando metade do salário. Poderá até mesmo demitir o idoso e recontratá-lo pagando muito menos. Assim que a lei entrar em vigor, serão gerados algo entre 13 milhões e 23 milhões de desempregados, numa canetada.

    Eu entendo quem duvida que políticos fariam uma lei com tamanho poder de destruição, afinal, em seus discursos eles prometem gerar empregos, e não o contrário; mas é fundamental entender a lógica do mercado: ninguém cria uma empresa tendo como objetivos criar empregos! A meta de qualquer empresa é gerar lucro. Ao criar uma empresa, criam-se empregos, desde que gerem lucro. E o desemprego diminui o valor dos salários, logo, AUMENTA LUCROS!!! Essas “reformas” aumentam e muito o lucro das empresas.

    Ao elaborar um projeto como este, são realizados estudos: inúmeros estudos. Estes efeitos estão previstos e, mais que isso, são efeitos desejados. Podemos enfim concluir que estes políticos que defendem as “REFORMAS” estão lá com a missão de criar projetos e implantar leis que beneficiam apenas quem financia suas campanhas (e não, o cidadão, que paga suas mordomias com trabalho duro e impostos pesados). Infelizmente…

     

    Monahyr Campos

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